Electropromoção para casais domésticos
O telefone toca e atendo-o instintivamente. A voz profissional do outro lado faz-me deduzir mais uma promoção, desta vez de electrodomésticos. Uma nova marca exclusiva, não sei quê não sei que mais, pergunta da treta, resposta e dados pessoais são requeridos. Nome, profissão e disponibilidade para levantar a oferta com a esposa. Respondo que não sou casado. E a noiva? Não tenho. Namorada? Respondo que tenho uma amiga com quem dou umas cambalhotas. Ela diz que é suficiente, tem é de ser um casal. Pergunto se pode ser simplesmente uma outra amiga com quem tomo café às sextas ou a outra com quem vou ao cinema às quintas. Ela fica confusa. Explico que não sei que amiga minha estará disponível para me acompanhar à promoção. E se eu fosse gay? Podia levar o meu companheiro ou a promoção é apenas válida para casais heterossexuais? Ela pede então para lhe dar um nome feminino. Atiro ao ar Genoveva Fronstespícia do Ralo. Ela aponta sem vacilar feliz por ter conseguido preencher a parte conjugal do questionário. Pergunto-lhe se é preciso levar documentos. Ela responde que não, basta que apresente o código que de seguida me vai dar. Dá-me uma sequência de letras e números e passa-me para outra operadora. Achei que me tinha desligado o telefone quando alguém atende, apresenta-se, dá-me a morada e combina as horas do levantamento das ofertas. Combinamos tudo ao máximo pormenor e mal desligo disco o número da minha prima Gertrudes, "Tudo bem? Amanhã tens tempo para vir a Benfica levantar uma prenda às 5 da tarde?"